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Afinal, Negros escravizavam Negros ?

  • Foto do escritor: Edran Blayner
    Edran Blayner
  • 2 de ago. de 2021
  • 4 min de leitura

Olá pessoal, eu me chamo Edran Januário, sou Historiador e escritor aqui no blog " Entrelinhas da história". E hoje, iremos abordar sobre um assunto que gera um grande debate em nossa sociedade, e por vários momentos se faz possível perceber discursos divergentes sobre o mesmo. "Afinal, Negros escravizavam Negros ?


Antes de iniciarmos a nossa fala, seria de fundamental importância analisarmos a fala do historiador norte-americano Paul E. Lovejoy (especialista em escravidão) sobre tal assunto. Em sua fala o mesmo diz que, " A África esteve intimamente ligada a esta história, tanto como fonte principal de escravos para antigas civilizações, o mundo islâmico, a Índia e as Américas, quanto como uma das principais regiões onde a escravidão era comum." Nesse sentido, podemos perceber que o autor destaca que esse processo já havia sido iniciado, no entanto, desde a dominação dos muçulmanos na África. Todavia, sabemos que com a chegada europeia esta configuração se altera de maneira significativa, impactando também na organização da vida social da região, e de todo o continente.


Pois bem, ao longo de muitos anos de estudo percebemos que há no continente africano diversas sociedade repletas de diferenças, seja nos aspectos sociais, econômicos, e ai por diante. Destaca-se as famílias aristocratas que chefiavam o Estado, comandavam o exército e detinham inúmeros privilégios (principalmente materiais), e por baixo disso, temos as famílias de camponeses e a de escravos. analisando então esse panorama, podemos dizer que aqui se inicia o ponto central do texto.


Ora caro leitor, pensemos ! Será mesmo que anterior a chegada dos europeus na África, os africanos se sentiam "africanos" ou até mesmo "negros" ? ou seja, havia por parte deles realmente o sentido de classificação racial ? ou existia apenas uma classificação regional? ou foi basicamente a partir da chegada dos europeus que esse "discurso" passou a circular mundo afora ? podemos assegurar que, esses conceitos só começaram a figurar por volta dos séculos XIX e XX exclusivamente quando os próprios lutavam contra a ocupação e colonização do seu continente. Para os africanos antigos, o que existiam na África eram povos diversificados, ou seja, povos díspares, onde cada qual tinham suas próprias culturas, costumes, vivências e políticas (como a que nós fazemos atualmente, classificamos os sujeitos pelos estados do globo aos quais pertencem). E é esses aspectos díspares que fez com que muitas tribos rivalizassem pois, disputavam territórios, regiões mineradoras, rotas de comércio, desencadeando posteriormente inúmeras guerras já por nós estudadas. E é nesse contexto de guerras que aparece então a figura dos escravos.


Antigamente, os escravos nessas sociedades africanas dedicavam-se a inúmeras atividades, sendo elas: trabalho pesado nas lavouras, minas de pedras preciosas, serviços domésticos (umas das principais alocação desses sujeitos), e obras ao qual promoviam o estado. Ora, então a partir dessa perspectiva quer dizer que o próprio negro escravizava o outro negro ? para respondermos a essa pergunta, é necessário compreender a escravidão dentro do contexto de cada sociedade. Vamos aos fatos.


O que conhecemos como escravidão moderna, diverge sistematicamente da escravidão greco-romana praticada antigamente, e sequer tem a ver com a escravidão praticada nos reinos e cidades-Estado africanas (escravidão doméstica), pois ela também teve as suas peculiaridades. Na África antiga, havia sim escravos, todavia eles trabalhavam na maioria das vezes ao lado de camponeses e também de artesãos livres, desempenhando o mesmo tipo de tarefas. Segundo historiadores, há relatos históricos onde o escravo conseguiu se integrar a sociedade que os dominou no passado. E a partir disso seus filhos nasciam livres, permitindo a esses escravos se estabelecerem e até mesmo se destacar assumindo papéis de administradores de terras, palácios e negócios públicos.


Temos relatos também que, desde o século XI havia sim a prática do tráfico (comércio) de escravos nos desertos (principalmente no Saara) praticados pelos árabes, onde os mesmos compravam esses escravos no sul e vendiam para cidades árabes do norte do continente. De qualquer maneira, esses impérios árabes não costumavam se utilizar muito de escravos. E foi a partir do século XV que os sujeitos provenientes da Europa tiveram contato direto com os africanos. (quando eu menciono contato direto, refiro-me a relações, comerciais). Assim sendo, vimos que do século XV ao XIX, milhares de seres humanos foram roubados de sua terra natal pelos europeus para trabalharem como escravos nas metrópoles e colônias.


Se pararmos para analisar o processo escravista iniciado no século XV, podemos afirmar que ele foi sistematicamente mais brutal do que a escravidão que existia na própria África. Pois, a partir do contato com os europeus, os africanos na sua própria cobiça pelo poder e ascensão social passaram a praticar a escravidão comercial ou moderna.


Mas afinal, como os traficantes de escravos conseguiam africanos ?


Podemos dizer que a forma mais prática de se conseguirem escravos, eram formando expedições que atacavam aldeias próximas do litoral. Consequentemente, como já mencionado acima, uma outra maneira frequente de se conseguir cativos eram negociando com os próprios traficantes africanos (que tinham experiência de tal prática com os árabes). É importante dizer que a demanda desse "negócio" era absurdamente grande, milhões e milhões de seres humanos foram comprados e trazidos para a América através de navios, além de rumarem também para diversos pontos da europa.


Por fim, destacamos então que devido a toda essa configuração comercial estabelecida no continente africano, não há como não ter mudanças drásticas e importantes na história do continente. Muitos reinos e muitas cidades-Estado cresceram e enriqueceram através do tráfico de sujeitos escravizados. Podemos citar alguns reinos como: Oio iorubá, O benin, Daomé, Kongo e Ndongo, Ashanti.


Cabe mencionar no final então que, para repetirmos o discurso onde o negro escravizou o próprio negro, devemos levar em consideração tudo o que foi mencionado acima, pois isso evita que pratiquemos anacronismos ou até mesmo tiremos o processo histórico de seu contexto.



Por Edran Januário

Graduado em História


 
 
 

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